quinta-feira, 22 de julho de 2010

A VAREJEIRA


Na área de serviço de nossa casa no interior do Estado, sentado numa cadeira e com os pés apoiados em outra, ao sol, podia ouvir o som do bater de asas de duas borboletas brancas brincando ao ar, sentir o cheiro gostoso das frutas em cima da mesa e contemplar o colorido em vários tons de verde das árvores e, mesmo sendo inverno, muitas flores faziam daquela paisagem algo divino.
O êxtase daquele momento foi ainda maior quando, do meio das folhagens de uma das mangueiras que circulam o quintal, surge uma varejeira grande, luminosa, parecendo uma esmeralda devido aos raios de sol que tocavam seu corpo. Parou a uma distância de dois metros diante mim. Passaram-se alguns segundos e então fez cocô. Admirei a confiança dela em fazer algo tão íntimo na minha frente. Quantas pessoas no mundo tiveram o privilégio de presenciar algo tão sublime ou ser homenageado dessa forma? Como poderia retribuir a ela por presente tão nobre?
Sobre a mesinha, próximo a mim, ladeado por biscoitinhos, bolo, suco e chá, um livro de poesias de Fernando Pessoa, fino e portanto leve em seu peso. Peguei-o e num gesto de carinho e deitei-o sobre a varejeira que, de imediato, cedeu ao meu gesto e caiu em sono profundo próximo a um pequeno formigueiro, sobre a grama macia e delicada. Admirei-a, esperando que acordasse logo, mas para minha surpresa e alegria, contemplei mais uma linda cena. Formigas vieram ao seu encontro e logo ofereceram um cantinho em sua morada, para que repousasse melhor. Não permitiram sequer que ela se levantasse, carregando-a com seus bracinhos delicados, porém fortes. Telefone tocou...voltei...nem sinal dela. Dava pra ver que o formigueiro estava em festa pela movimentação externa. Visita! Acredito que a convidada tivera ido embora e numa atitude elegante deixou de presente às hospedeiras duas de suas asinhas e fora embora a pé.